sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Preços do trigo no RS superam em até 12% valor pago no PR

Clima e alta tecnologia empregada nas lavouras gaúchas fizeram com que o Estado superasse o Paraná em termos de produção, na última safra.
 
 
O clima e tecnologia empregada nas lavouras de trigo na última safra apresentam seus méritos agora, com relação aos preços. Em alguns casos, as cotações chegam a ser superiores do que no Paraná – principal estado produtor do país. Essa situação ocorre porque o produto gaúcho teve melhor qualidade do que o paranaense, que também teve quebra de safra por causa do clima. Por causa disso, a safra 2011 foi a segunda na história em que o Paraná obteve menor produção do que o RS.

De acordo com o analista de mercado, Luiz Carlos Pacheco, de Curitiba, como o plantio do cereal ocorre em épocas diferentes nos dois estados, o clima prejudicou a qualidade das lavouras do Paraná e favoreceu as do Rio Grande do Sul. Além disso, desestimulados com os baixos preços do ano anterior, os triticultores paranaenses também não aplicaram toda tecnologia de produção disponível, por ser muito cara. “Assim, o resultado foi que tivemos uma produção menor e preços menores”, comenta.

Até 2011, o Paraná era o principal estado produtor de trigo do país. Mas na última safra o RS ultrapassou, conforme os dados do último levantamento de Safras feito pela Conab. Na safra 2011/12, o RS plantou 932,4 mil hectares de trigo, contra 1.042,5 mil do Paraná. Mas, o RS teve uma produtividade maior: 2.941 quilos/hectare, contra 2.399 kg/ha do PR. Como conseqüência, o RS colheu 2.742,2 mil toneladas de trigo e o PR colheu 2.501,0 mil toneladas.

O produtor gaúcho também cultivou mais trigo pão, em torno de 80%, contra a média de 30% ou 50% dos últimos anos. Além de usar sementes de trigo de melhor qualidade, o RS foi favorecido com condições climáticas próximas do ideal, condição que não ocorreu com o PR, que sofreu com geadas e chuvas fora de hora.
Mas conforme Pacheco, o produtor tem que ter em vista as necessidades do mercado na hora da formar sua lavoura. “O que ocorria até recentemente, era que o triticultor não pensava nisto, plantava qualquer tipo de trigo e depois vendia tudo para o governo, o que ocasionava um descompasso no mercado. O problema maior da expansão do trigo no Brasil parece ter sido a interferência do governo na comercialização, implantada na década de 60, quando passou a tutelar 100% da produção e comercialização do cereal, comprando tudo o que o produtor produzia, sem nenhuma exigência de qualidade, numa ponta e vendendo na outra para os moinhos a preços subsidiados. Com isto, acostumou o produtor a ‘plantar para o governo’, e não para o mercado, não se preocupando em aprimorar a qualidade do trigo e as indústrias se acostumaram a buscar qualidade e volume no exterior, modelo que funciona até os dias de hoje. Agora, aos poucos, o mercado volta a se alinhar: produtor - moinho - indústrias - consumidor final. E, com isto, todos ganham, inclusive o país, porque a longo prazo, principalmente quando houver mais rentabilidade vinda deste alinhamento, a área de trigo no Brasil certamente vai aumentar muito e poderemos até exportar”, destaca.

Conforme o analista, essa situação aconteceu com muitos outros produtos que começaram a ter plantio extensivo depois do trigo, como a soja, o milho, o café e a cana de açúcar, que não só cresceram e abasteceram o mercado interno, como geram grandes excedentes para exportação.

De acordo com dados do analista de mercados, hoje os preços pagos aos produtores em Cascavel, Londrina e Maringá, que são as maiores regiões produtoras do PR, estão ao redor de R$ 23,00/saca; em Campo Mourão, também grande produtor, está a R$ 21,82. Em compensação, está em R$ 24,63 em Irati e R$ 26,74 em Ponta Grossa, mas estas são praças compradoras de trigo (embora também produzam). Já os preços médios do Rio Grande do Sul estão a R$ 24,00 em Bagé, Cachoeira do Sul e Cruz Alta e R$ 23,00 em Carazinho. O que aponta que há mais praças gaúchas pagando mais.

O normal é que os preços do PR sejam maiores, porque produz trigo pão e no RS se produzia mais trigo brando. Mas, como neste ano o tipo do produto foi quase o mesmo, e a qualidade do cereal gaúcho foi melhor, os preços ficaram melhores no RS.

Alguns moinhos buscaram no Norte do RS trigo brando, mesmo assim, é vantajoso, porque o RS tem o problema da super produção: produziu 2.742,2 milhões toneladas e só consome 1.100 milhões de t, acaba sendo necessário escoar o excedente. Entretanto, como está longe das indústrias, porém, este escoamento é mais viável para exportação, apesar de que, qualquer volume escoado, por pouco que seja, sempre ajuda.

Além disso, Pacheco destaca que um problema que deve se intensificar em março, é o espaço nos armazéns, quando entram as safas de soja e milho, que dão maior rentabilidade ao agricultor, e às cooperativas e cerealistas, precisando escoar o trigo, o escoamento para o PR é vantajoso.

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